O setor de celulose em Mato Grosso do Sul pode gerar, a médio e longo prazo, um volume de energia elétrica – bioeletricidade – equivalente a 3,8 vezes a capacidade da Usina Hidrelétrica Engenheiro Souza Dias (Jupiá).
A estimativa foi apresentada na manhã desta sexta-feira (29) pelo gerente de Competitividade e Facilities da Eldorado Brasil Celulose, Jozebio Gomes, durante o painel que discutiu as oportunidades de transição energética para o estado no Fórum de Bioenergia, realizado na Casa da Indústria, em Campo Grande.
Gomes explicou que a projeção foi feita levando em conta as capacidades das plantas de celulose já em operação no estado (três da Suzano e uma da Eldorado) e os novos projetos já em execução ou estudo (Arauco, Eldorado – segunda linha e Bracell). Esse parque industrial, conforme ele, deve produzir cerca de 16 milhões de toneladas de celulose por ano.
“Para cada tonelada de celulose, eu gero 0,9 megawatts de energia. Desses 0,9 megawatts, eu consumo 0,68 megawatt e exporto 0,21 megawatt. Ou seja, no bruto, eu estarei produzindo 14 milhões de megawatts, que será o meu potencial de produção com todos esses projetos que estão vindo aí e os que já existem. Desse total, as empresas devem consumir 11 milhões de megawatts, e sobram para exportação aproximadamente 3 milhões de megawatts”, calcula.
Além dessa geração futura, considerando somente a produção de celulose, Gomes explicou que existe uma possibilidade, um “pulo do gato”, para o setor ampliar ainda mais esse volume. Ele citou o projeto implantado na Eldorado, da construção da Termelétrica Onça Pintada, que utiliza tocos que ficavam no campo após o corte do eucalipto, além de galhos e folhas, para a geração de bioeletricidade.
“Para eu produzir 16 milhões de toneladas de celulose, eu preciso de área plantada. O estado tem cerca de 1,8 milhão de hectares, e vamos precisar de quase 2 milhões de hectares. Estamos falando de 2 bilhões de árvores plantadas. Desse total, 70% eu vou reformar a cada 7 anos, e 14% desse volume eu estaria deixando nas áreas. É toco. Mantendo a sustentabilidade do solo, mas retirando esse toco, eu teria 5 milhões de toneladas de biomassa por ano, somente de toco. Utilizando esse material para a produção de energia, teria a relação de 1,1 tonelada por megawatt gerado. São 5 milhões de megawatts de energia, que, somados aos outros 3 milhões produzidos com a produção de celulose, eu teria cerca de 8 milhões de megawatts de energia por ano. O suficiente para abastecer 3,5 milhões de pessoas”, detalha.
Gomes diz que é preciso se atentar a esse potencial e a como o setor pode contribuir não somente para a mudança da matriz energética do estado, mas também do país.
Matriz limpa
Na avaliação do secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck, Mato Grosso do Sul já fez seu processo de transição energética, pois 94% de sua matriz vem de fontes renováveis (hidráulica, biomassa e solar). “A rigor, nós já fizemos o processo de transição, mas isso, obviamente, não garante uma tranquilidade; é somente um ponto de vista para darmos continuidade.”
Entre os desafios do estado, ele cita a certificação das ações e projetos que desenvolve e a melhoria da infraestrutura para o desenvolvimento dos projetos. O secretário apontou que eventos como o Fórum de Bioenergia são importantes para a discussão das linhas de ação que podem ser adotadas para ampliar o processo de produção.
“Então, estamos falando da produção de energia por meio da biomassa. Falando da questão do avanço do biometano, do etanol de segunda geração, do SAF e do etanol de milho. Mato Grosso do Sul está pronto para se apropriar da estratégia de expansão da bioenergia, e isso passa pela nossa produção agrícola.”
O evento foi uma iniciativa do LIDE Mato Grosso do Sul e da Biosul, com apoio do Sistema Fiems e da Reflore-MS.
Fonte: g1