Terror psicológico, chutes, socos, homens encapuzados e armados com facas e pistolas, xingamentos e uma série de agressões. Assim que a cineasta e antropóloga Ana Carolina Porto e o marido Renaud Philippe, que é fotojornalista e canadense, descrevem os momentos de tensão que passaram em uma área de conflito entre indígenas e fazendeiros em Iguatemi (MS). Assista ao vídeo acima.
Em entrevista, Renaud e Ana Carolina relembraram a sequência de agressões sofridas. O fotojornalista canadense teve o cabelo cortado com uma faca pelos suspeitos. Ana Carolina foi jogada ao chão e agredida psicologicamente de forma constante.
As vítimas estavam em Mato Grosso do Sul para produzir um documentário sobre o conflito fundiário entre povos originários e produtores rurais. Além de Ana Carolina Porto e Renaud Philippe, o engenheiro florestal Renato Farac Galata, que intermediava a comunicação dos documentaristas com os indígenas locais, também foi agredido.
Renaud foi fortemente agredido pelos suspeitos. No corpo, vários hematomas estão espalhados. No cabelo é possível ver que um tufo foi arrancado à força, segundo a vítima
"Quando chegamos tinham 30 pessoas, várias caminhonetes. Algumas pessoas falaram que ia ficar perigoso quando chegássemos. Quando íamos entrar no carro, já entraram essas pessoas encapuzadas e começaram a agredir a gente. Começaram a tirar as nossas coisas do carro, pegar as câmeras e tudo. Nós nos identificamos como jornalistas", detalhou o fotojornalista canadense.
A lembrança das agressões ainda são frescas na memória da cineasta e antropóloga Ana Carolina. Para a vítima, a violência chocou e a deixou com estresse pós-traumático.
"Me jogaram no chão, chutaram. Ao mesmo tempo que eles nos violentavam, outros roubaram nossas coisas do carro. Pegaram câmeras, material de trabalho, documentos, telefones e até papel higiênico. Nunca imaginei", relembra Ana Carolina.
No Boletim de Ocorrência consta que os suspeitos teriam roubado todos os equipamentos do casal. O prejuízo financeiro é de mais de 10 mil dólares, segundo as vítimas.
Outra marca da violência é a psicológica. Ana Carolina conta que foi ameaçada constantemente pelos suspeitos, alguns deles encapuzados. "No momento da violência teve muita ameaça psicológica. Eles jogaram o Renaud em uma poça de lama. Começaram a chutar ele. Eu tentei ajudar, fiquei com medo. Queriam cortar meu cabelo e me xingando. Eles queriam me cortar, vieram com faca até o meu rosto".
Investigações
As investigações do caso devem seguir em parceria entre as Polícias Federal e Civil. Em nota, a Polícia Federal informou que acompanha o caso, diz ter feito diligências em locais próximos à aldeia e instaurado uma Notícia de Crime em Verificação (NCV).
Quando a Polícia Civil, a investigação deve correr pela delegacia de Iguatemi. Nessa quinta-feira (23), sete indígenas foram até a delegacia e denunciaram agressões sofridas na mesma região em que os documentaristas foram agredidos.
Além das polícias, a Defensoria Pública da União (DPU) também acompanha o caso de forma próxima.
Entenda o caso
O g1 teve acesso ao Boletim de Ocorrência que detalha as agressões. O trio estava em Mato Grosso do Sul para produzir um documentário sobre o conflito entre indígenas e produtores rurais na região.
Na denúncia, o trio relata que, durante a tarde desta quarta, participavam da Assembleia da Aty Guasu - reunião entre lideranças dos povos indígenas de todo Brasil, realizada em Caarapó (MS), - quando souberam de um suposto conflito na Comunidade Pyllitokoe, em Iguatemi. O trio decidiu ir até lá.
Antes de chegarem ao local, a equipe teria sido surpreendida por um grupo de cerca de 30 homens armados com faca e pistolas. "O que aconteceu foi que umas trinta pessoas, a maioria com algo na cabeça, vieram até nós com camionetes e armas. Eles simplesmente bateram em nós e levaram tudo, minha câmera, passaporte, celular, tudo", comentou o fotojornalista em vídeo.
"Um dos agressores cortou o cabelo com uma faca e outros lhe deram chutes nas costas e costelas. A vítima [fotojornalista canadense] aponta que neste momento um dos agressores pegou o celular e agressores passaram a procurar em suas coisas na agenda por indícios que acredita que o trio tinha relação com os grupos indígenas locais, ao fim do que os agressores pegaram os equipamentos das vítimas e foram embora", descreve o Boletim de Ocorrência quanto ao depoimento do estrangeiro.
Indígenas da região de Iguatemi afirmam que o local não é seguro por causa das disputas fundiárias.
O boletim indica que após terem sido agredidos e roubados, o trio foi liberado pelos suspeitos. Segundo o g1 apurou, Ana Carolina, Renaud e Renato seguiram para Amambai (MS), cidade a 130 km de Iguatemi, onde registraram a Ocorrência.
Fonte: g1