Publicado em 03/12/2024 às 20:22,
Os servidores vistoriaram o local e conversaram com os internos, mas, em princípio nenhuma irregularidade foi encontrada.
Uma inspeção conjunta envolvendo diversos órgãos foi realizada na tarde desta terça-feira (3), no Espaço Terapêutico Fazendinha, localizado na Chácara dos Poderes, em Campo Grande, após uma denúncia anônima de cárcere privado e maus-tratos. Os servidores vistoriaram o local e conversaram com os internos, mas, em princípio nenhuma irregularidade foi encontrada.
Questionados sobre o desejo de permanecer no local, 30 dos 120 internos do local expressaram o desejo de deixar a comunidade, e alguns familiares foram até o local para levar os parentes de volta para casa.
De acordo com a procuradora regional dos direitos do cidadão, Samara Yasser Yassine Dallou, a operação não foi desencadeada exclusivamente pelas denúncias de maus-tratos, mas sim pela necessidade de realizar uma fiscalização de rotina.
“Qualquer instituição que ofereça serviços de acolhimento, seja pública ou privada, está sujeita à fiscalização. A operação foi uma ação conjunta entre vários órgãos com o intuito de averiguar as condições do local e garantir a proteção dos internos”, afirmou a procuradora.
Além da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão e representantes d o Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Civil, o Conselho Regional de Farmácia, a Defensoria Pública e a Assistência Social também participaram da inspeção.
A procuradora explicou que a apuração completa das denúncias pode levar até uma semana. “Ainda estamos em processo de análise das informações. A partir disso, iremos divulgar um relatório com as conclusões. O foco da operação é garantir que as pessoas internadas estejam em condições adequadas de tratamento”.
A proprietária do Espaço Terapêutico Fazendinha, que pediu para não ter o nome revelado, afirmou que a comunidade está em funcionamento há pouco mais de um ano e que o acolhimento é feito de maneira voluntária. Ela defendeu a integridade do trabalho realizado e negou as acusações de maus-tratos.
“Aqui, tratamos da dependência química de forma séria. Temos cinema, campo de futebol, piscina, e a visitação é livre. Nossos internos têm toda a assistência necessária”, garantiu a proprietária.
A mãe de um dos internos, que prefere não ser identificada, disse que seu filho, está na comunidade há três meses, e relatou que se sentia bem acolhido. Ela questionou a forma como as autoridades trataram a situação.
"Eles perguntaram se as pessoas queriam sair, e isso gerou um burburinho. Eu acho errado que uma pessoa doente, como meu filho, seja questionada sobre querer ou não ficar. Ele não sabe o que é melhor para ele nesse estado", disse ela.
Roberto Chaparro, psicólogo da comunidade terapêutica, mencionou que muitos internos enfrentam um "conflito interno" entre querer sair e reconhecer os benefícios de permanecer em tratamento. Ele também criticou a forma como a operação foi conduzida, acreditando que a abordagem pode ter influenciado a decisão de alguns internos de deixar o local.
Em entrevista, a mãe de um dos internos relatou que a decisão de internar seu filho na comunidade foi motivada pela dificuldade em lidar com a dependência química dele.
“Ele tem 37 anos, e não sabe o que faz da vida. Depois de um tratamento em São Paulo, ele voltou para a rua, e eu não consegui mais cuidar dele. Por isso, trouxe ele para cá”, explicou, destacando que nunca teve dificuldades no contato com a administração da comunidade.
Ela se mostrou contra a saída de seu filho da instituição, após o burburinho gerado pela operação. "Aqui ele estava bem, e agora, com tudo o que aconteceu, fiquei insegura. Mas, se a justiça achar que ele tem que sair, vou levar ele para casa. Eu só quero que ele se trate", afirmou, enfatizando sua preocupação com o futuro do filho, caso ele deixe o local sem a devida preparação.
A procuradora Samara destacou que, mesmo com a saída de alguns internos, o Espaço Terapêutico Fazendinha continua em funcionamento. “Nos próximos dias, teremos um panorama mais claro sobre a situação, e cada órgão, dentro de sua competência, tomará as medidas que julgar necessárias”, concluiu.
Fonte: g1