Publicado em 27/10/2025 às 08:35,
Indígenas Guarani-Kaiowá ocuparam uma fazenda em Caarapó (MS) e incendiaram maquinários e a sede da propriedade na manhã deste sábado (25). A região enfrenta conflitos por terras há mais de um mês.
Equipes da Polícia Militar, Força Nacional e do Departamento de Operações de Fronteira (DOF) foram enviadas ao local para monitorar a área ocupada. Helicópteros sobrevoam a fazenda para identificar pontos de incêndio.
Segundo apurado pelo g1, cerca de 30 indígenas ocuparam a Fazenda Ipuitã no início da manhã e incendiaram um trator e a casa da sede. Até a última atualização, eles permaneciam no local. Não há registro de feridos.
A fazenda fica ao lado de uma aldeia indígena e, segundo os Guarani-Kaiowá, parte do território pertence à Terra Indígena Guyraroká. Uma porção da área já foi declarada oficialmente, enquanto outra — onde está a propriedade rural — ainda aguarda conclusão do processo de demarcação. Os indígenas afirmam que a fazenda sobrepõe território ancestral, enquanto os fazendeiros sustentam que se trata de propriedade privada.
O g1 procurou o governo do estado e o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), mas não obteve resposta até a última atualização. A administração da fazenda também não foi localizada. A Polícia Militar informou, em nota, que acompanha a situação (leia a íntegra abaixo).
Ocupação e conflito
De acordo com a PM, equipes de segurança e do Corpo de Bombeiros foram acionadas via 190 logo após a ocupação. A primeira informação relatava que mais de 30 indígenas armados teriam invadido a propriedade. A corporação, porém, não detalhou o tipo de armamento.
Os policiais afirmam que o caseiro foi expulso e que o incêndio começou na sede da fazenda, espalhando-se rapidamente e gerando densa fumaça sobre a área.
Fontes do Conselho Missionário Indigenista (Cimi) disseram que a ocupação foi uma medida de proteção diante de conflitos e ameaças recentes. Segundo o Cimi, indígenas têm sido agredidos e feridos por jagunços e equipes de segurança privada.
O representante do Cimi em Mato Grosso do Sul, Matias Rempel, classificou a ação como uma “ocupação de segurança”.
“É uma medida para proteger a vida dos Guarani-Kaiowá, que seguem sendo atacados por forças da fazenda e do Estado”, afirmou.
Há uma semana, cerca de dez indígenas Guarani-Kaiowá foram atingidos por balas de borracha durante outro confronto na região. Entre os feridos estava Valdelice Veron, uma das principais lideranças da etnia no estado.
Em nota, o Cimi afirma que, desde a retomada da terra, famílias indígenas sofrem ataques ilegais de forças de segurança, sem ordens judiciais ou mandados de reintegração de posse.
“Os indígenas pedem proteção à vida e a garantia da demarcação do território. Os Kaiowá vivem em apenas 50 hectares dos mais de 11,4 mil já declarados, onde a maior parte segue degradada pelo uso indevido da terra”, destaca o comunicado.
Terra em disputa e processo parado no STF
A área da Fazenda Ipuitã é considerada terra ancestral e está em processo de demarcação. O caso está parado no Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2016.
Em 2019, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA), determinou que o Estado brasileiro adotasse medidas de proteção aos Guarani-Kaiowá da comunidade Guyraroká.
Conforme relatório da comissão, em 2009 o governo brasileiro reconheceu que as terras onde a fazenda está inserida pertencem aos indígenas. Os Guarani-Kaiowá tentam retomar a área desde 1999.
Investigação sobre uso irregular de agrotóxicos
Além da disputa fundiária, os indígenas denunciam o uso indevido de agrotóxicos na fazenda. O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) abriu investigação para apurar o caso.
Segundo o MPMS, foram enviados ofícios à Polícia Militar Ambiental (PMA), à Iagro, ao Imasul e à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) para verificar as denúncias. O inquérito foi aberto após a retomada da fazenda pelos Guarani-Kaiowá, que também cobram a conclusão da demarcação.
O que diz a Polícia Militar
“A Polícia Militar de Mato Grosso do Sul (PMMS) foi acionada na manhã deste sábado (25) na região rural de Caarapó, com o objetivo de restaurar a ordem pública e garantir a segurança de pessoas e propriedades na localidade conhecida como Fazenda Ipuitã.
As equipes se deslocaram após chamado via 190 relatando a presença de um grupo de cerca de 50 indígenas armados, que teriam invadido e incendiado a sede da fazenda e maquinários agrícolas.
A PM reforça seu compromisso com a manutenção da ordem pública, a segurança da população e o cumprimento da lei, atuando sempre de forma técnica, legal e proporcional.”